sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Previsão do tempo: falta acessibilidade para pessoas cegas.

Quem não convive com uma pessoa com deficiência visual dificilmente vai compreender o mecanismo utilizado por elas para acessar as informações veiculadas pela televisão. A capacidade de receber essa informação vendo e ouvindo simultaneamente, traz o entendimento de que esses sentidos estão integrados. Seria redundância, por exemplo, ler o número do telefone que aparece no rodapé da tela ao invés de convidar o telespectador a ligar para “o telefone que aparece no vídeo”. Além disso, cria-se a ideia de que em televisão, tempo é dinheiro, usando essa justificativa para expluir milhares de pessoas que, por qualquer motivo, não conseguem ler.
(Flávia Freire) Embora a audiodescrição já tenha sido oficializada no Brasil através de uma portaria do ministério das comunicações desde 2010 e de também já ser objeto de estudo para inúmeras produções e pesquisas científicas, pessoas com deficiência visual ainda encontram dificuldade para acompanhar a programação veiculada atualmente na maioria dos canais abertos. A audiodescrição é um recurso de acessibilidade que consiste na tradução das imagens que são narradas por um profissional, o audiodescritor. Ele descreve verbalmente e com o máximo de detalhes tudo o que acontece em uma obra audiovisual para preencher a lacuna da comunicação visual, para aqueles que dela não conseguem tirar proveito. Não há dúvida de que a ausência do recurso da audiodescrição cria um desconforto, gerando prejuízos na participação das pessoas com deficiência visual na interação com esses conteúdos midiáticos. Entretanto tais dificuldades poderiam ser minimizadas com atitudes muito simples como no caso do exemplo acima, se o apresentador anunciasse o número que aparece na tela. Ultimamente uma das grandes “pedras no sapato” das pessoas com deficiência visual tem sido a previsão do tempo veiculada na Rede Globo. É comum que os eventos climáticos sejam anunciados tendo como referência uma legenda colorida nos mapas. Ora vai chover em todas as regiões pintadas de azul no mapa. De repente o sol aparece nas áreas amarelas e o índice de raios ultravioleta está extremo nos pontos em vermelho. As cores até podem variar, mas o sentido delas não. Temos por exemplo, os mapas em que a zona de convergência espalham nuvens em toda faixa clara e, ainda, aqueles cujo sol aparece onde está lilás. E então o que deveria servir para comunicar algo passa a representar uma barreira enorme de comunicação. Sem saber em qual região chove ou faz sol, também não adianta ter conhecimento de que a mínima será de 21 graus em São Paulo e a máxima de 38 no Rio de Janeiro. A informação truncada talvez seja mais prejudicial do que a inexistência dela. Se alguém nunca parou pra pensar, faça uma experiência: tente assistir à previsão do tempo com os olhos fechados. Num país de grande extensão territorial, como é o caso do Brasil, o difícil não é criar mentalmente o desenho do mapa e suas divisões regionais. Muito menos econhecer cada estado, identificando-os nas áreas coloridas. A dificuldade está justamente em não receber a informação por completo e não ouvir, por exemplo, que faz sol entre o sul do Mato Grosso do Sul e o extremo oeste de Santa Catarina. Que do Litoral norte de São Paulo até a Bahia a Zona de Convergência deixa o tempo com nebulosidade e que no Espírito Santo chove em toda faixa leste do estado. Simples Assim! Quem assiste à previsão do tempo não deseja uma aula de cartografia, muito menos fugiu das aulas de geografia. Pessoas cegas ou com baixa visão dependem apenas de informações precisas, narradas e objetivas e essa opção não tira a beleza nem o colorido dos mapas. Se a linguagem televisiva pretende simplificar tanto a apresentação, então chegou a hora de ampliar a oferta de audiodescrição, pois os jornalistas não estão dando conta de informar com qualidade, precisão e equilíbrio suficientes ao bom entendimento coletivo. Luciane Molina é pedagoga e Especialista em Atendimento Educacional especializado. atua com formação de professores no Vale do Paraíba e Litoral Norte de São Paulo Origem: Guia Inclusivo. Fonte: Blog Audiodescrição. Acesso em http://www.blogdaaudiodescricao.com.br/

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