TEMA : EDUCAÇÃO SEXUAL
Título: Educação Sexual: Utopia ou uma conquista possível.
Autor: Clerian da Silva Pereira
Orientadora Educacional
Colégio de Aplicação Dom Hélder Câmara
Modalidade: Comunicação Oral
clerianpereira@hotmail.com
A sexualidade, como possibilidade e caminho de alongamento de nós mesmos, de produção de vida e existência, de gozo e de boniteza, exige de nós essa volta crítico-amorosa, essa busca de saber de nosso corpo. Não poderemos estar sendo, autenticamente, no mundo e com o mundo, se nos fechamos medrosos e hipócritas aos mistérios de nosso corpo ou se os tratamos, aos mistérios, cínica e irresponsavelmente.
(Paulo Freire)
Entre tantos desafios enfrentados por pais e educadores neste final de século as questões relacionadas à vivência da sexualidade na infância e na adolescência têm recebido destaque. Há um mal estar instalado nas famílias, nas escolas e na sociedade quando a discussão é o que fazer com crianças e adolescentes que estão se defrontando com seus próprios desejos e sentimentos: envolvidos por um contexto sócio-cultural marcado pela exacerbação do erotismo, pela banalização das relações e pela coisificação do corpo e da pessoa.
Estamos lado a lado com nossas crianças, consumindo sexo por meio de revistas, filmes, programas infantis ou não, por meio da música e da dança. Sendo assim os profissionais da educação e a família, através do seu relacionamento pessoal e profissional, precisam proporcionar um ambiente saudável, onde o aprendiz organize estas informações recebidas. Educar e educar-se afetivamente e sexualmente, contribui para formar homens e mulheres livres e responsáveis.
Entre os adultos encontramos muito constrangimento em lidar com a sexualidade. Por que tanta vergonha e falta de recursos internos para reagir positivamente às perguntas e manifestação da sexualidade infantil? Por que reações omissas ou mentirosas que vão do “fingir que não ouvi e vi” à ameaça de que a criança vai “se machucar ou pegar bichinhos e sujeira se colocar a mão lá ou se beijar na boca”.
Nesse momento, na verdade, somos fisgados por fantasmas e equívocos, que colocam muitas sombras em nosso bem viver. Boa parte de nós ainda é refém de medos e preconcceitos associados a sexo. Queremos muito – e às vezes até achamos que chegamos lá – conseguir lidar com ele de modo tranqüilo e natural, sem angústia ou receios, como qualquer outro tema intrínseco à vida e que abordamos em nosso dia-a-dia sem ter que repetir as atitudes repressivas que normalmente tivemos como modelo.
Penso que essas constataçôes contraditórias e intrigantes também encontram respostas aí, na nossa fragilidade e confusão, na nossa alienação, resultados de uma sociedade autocentrada, embrutecida, que usa o consumo para aplacar suas angústias e que, portanto, já não sente ou pensa – simplesmente vai no vai-da-valsssa do automatismo.
Estamos falando de um processo maior de manipulação, que alimenta uma subjetividade que sustenta o distorcido processo que vivemos de banalização da sexualidade e que nos dá a ilusão de que vivemos um autêntico e legítimo momento de liberação sexual. Como vemos, assumir novas posições e resgatar o tempo e sentimento perdidos é preciso.
Percebemos em nossa prática que a sexualidade é tema freqüentemente vivenciado e discutido por alunos e professores nas escolas, se não formalmente, em programas de educação sexual ou em aulas de ciências ou biologia, informalmente, nas conversas e relacionamento entre estudantes no cotidiano da escola e nas reuniões pedagógicas dos docentes. O interessante sobre sexualidade no contexto escolar reforça a característica multidimencional do processo ensino-aprendizagem, mostrando que o desenvolvimento cognitivo do individuo é estreitamente relacionado e, portanto, influenciado por seu desenvolvimento pessoal e social, no qual a sexualidade e afetividade têm papéis fundamentais.
A partir de nossa prática, não é difícil constatar que a prioridade, ou seja, a nossa primeira ação dentro de nossa instituição, é na direção de sua opção por retirar a sexualidade da clandestinidade, fazendo com que a orientação sexual deixe o currículo oculto e seja inserida no seu currículo oficial desde a educação infantil, sabendo que esse trabalho é complementar ao da família – precisamos respeitar os princípios religiosos e familiares que os educandos trazem – e não se reduz a falar das diferenças genitais ou somente abordar a questão pelo prisma biológico nas aulas de ciências. Falar de sexo e sexualidade é também falar de gênero, de emoção, de política, de prazer, de história, de culturas, enfim, de cidadania.
A ação seguinte, realizamos um trabalho de “bastidores”. Onde a equipe do colégio e os professores precisam ser preparados, instrumentalizados para que a promoção do trabalho seja garantida.
Além de capacitações, é oferecido a estes professores tempo para troca e reflexão a partir de um trabalho que integre informações e emoção, para que alterações concretas aconteçam. Ter acesso a conhecimento e informações, por si só, não transformam o comportamento. Principalmente quando o assunto envolve valores, tabus, crenças religiosas etc... O objetivo não é “ensinar ou fazer o professor entender na marra” . É um trabalho muito mais de acolhimento que abrirá possibilidades de ressignificação por parte dos adultos envolvidos, pois pretendemos que, através de um processo de formação permanentes, eles desenvolvam recursos internos que lhes dêem subsídios técnicos e emocionais para que se coloquem cada vez mais com espontaneidade e clareza, com segurança e coerência, construindo uma visão gradativamente mais favorável e realista sobre a sexualidade.
A terceira ação desenvolvida pelo colégio, é trabalhar junto a profissionais de saúde que oferecem palestras para os alunos, respeitando a faixa etária e amadurecimento dos educandos. Os temas são definidos junto à equipe técnico-pedagógica, após sessões de classe com a orientação educacional.
Em relação às nossas pequenas crianças, não é difícil observar reações menos estereotipadas e mais espontâneas, de acordo com o desenvolvimento natural da sexualidade infantil, e menos ansiedade, já que suas noções sobre sexo começam a ser construídas numa base que tem como referência respostas verdadeiras e conseqüentemente um vínculo de confiança e esclarecimentos que confirmam ou não as hipóteses que criam sobre o tema – sim, porque crianças desde muito pequenas já pensam e confabulam sobre sexo – evitando a fixação em fantasias que se transformarão, provavelmente, em crença equivocadas.
Além disso, uma série de princípios valores como respeito ao próximo corpo e ao do colega, sexo ligado a amorosidade, aconchego, privacidade, intimidade e questionamento de estereótipos sexuais estarão sendo vivenciados em seu cotidiano, e, finalmente, verbalizados!
Na verdade, o silêncio e a passividade, de nossa parte, abrem cada vez mais as portas para que “tiazinhas e feiticeiras” sejam orientadoras sexuais, por excelência, de nossos filhos e alunos que perdem, a cada investida tão bem articulada da mídia, por exemplo, a oportunidade de construírem noções relativas a sexo a partir de uma crítica madura e consciente evitando, assim, que sejam presas fáceis.
Finalizo questionando a todos nós: o que vamos continuar fazendo com a nossa responsabilidade de formar cidadãos por inteiro?
Referências bibliográficas:
AQUINO, J.G.(org.). Sexualidade na escola. São Paulo: Summus, 1997.
FREIRE, J. et al. O desafio ético. Rio de janeiro: Garamond, 2000.
GTPOS. Sexo se aprende na escola. São Paulo: São Paulo: Pingo D’ Água, 1995.
RIBEIRO, M. Menino brinca de boneca? Rio de Janeiro: Salamandra, 1990.
_______, Mamãe, como eu nasci? Rio de janeiro: Salamandra, 2000.
SUPLICY, M. Papai, mamãe e eu. São Paulo: FTD, 1993.
VERGUEIRO, F. V. Quem é o lobo? Boletim GTPOS. São Paulo, n. 18, jan./abr. 2000.
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