quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

5ºSBECE - 2ºSIECE 2013

Apresentação: No século XVIII, surge a escola moderna disciplinar, intrinsecamente relacionada com os significados de tempo e espaço que emergem com a cosmovisão moderna. Os confusos e múltiplos mundos medievais, onde o tempo só era percebido pelos ciclos da natureza, deram lugar a um espaço infinito e a um tempo linear. A transformação desses significados está entrelaçada com uma série de acontecimentos, dentre os quais se podem destacar a mecânica newtoniana, a invenção da perspectiva na arte, as grandes navegações e as demarcações dos Estados-nação. Espaço e tempo passaram, então, a ser considerados duas grandezas independentes e objetivas, possíveis de serem medidas, administradas, fracionadas. O mapa moderno, que desprezava a dimensão temporal, fornecia coordenadas fixas. O transcurso do tempo não estava ligado ao espaço. O relógio não afetava o mapa. A ordem moderna disciplinar primava pela estática, pela fixação (Saraiva, 2010) e procurava dar ao mundo uma estrutura onde a contingência era eliminada ou, simplesmente, não existia (Bauman, 1999). Instrumentos ícones da Modernidade, o mapa e o relógio se traduzem no ambiente escolar pelos espelhos de classe e pelos quadros de horário. A escola moderna fixa os corpos no espaço e usa o tempo de forma exaustiva e coletiva. Seguindo a lógica da ordem moderna, o conhecimento também é espacializado, distribuído e fixado nas disciplinas (Veiga-Neto, 1996). A fábrica funciona de forma análoga, com a distribuição dos corpos nos postos de trabalho, cumprindo longas jornadas. O futuro se coloca como um resultado dos esforços presentes, tornando-se previsível mediante um planejamento adequado, cumprido de modo ordeiro. Desde meados do século XX, passamos por transformações nos modos de significar, utilizar e operar com os conceitos de espaço e tempo. David Harvey (2001), já na década de 80, falava de compressão espaço-temporal. As novas possibilidades de transporte e os múltiplos meios de comunicação em massa, juntamente com o telefone, parecem ter encurtado as distâncias. Isso fica ainda mais acentuado com o surgimento das tecnologias digitais, da internet e dos telefones celulares. Somos invadidos por sentidos de urgência e, ao mesmo tempo, de contingência. Essas tecnologias são, hoje, possivelmente os principais pontos de apoio dos acontecimentos que alavancam as transformações espaço-temporais. Espaço-tempo é um conceito que surge com a Teoria da Relatividade, no início do século XX, transformando a mecânica newtoniana ao tomar o tempo não como uma grandeza distinta do espaço, mas como uma de suas dimensões. O espaço torna-se, assim, quadridimensional. Esse conceito foi migrando para a área de ciências humanas justamente para dar conta de certa percepção social de que tempo e espaço estariam se tornando indissociáveis, de que a vida como um todo se acelera e de que as posições que ocupamos são instáveis e transitórias. A integração do mapa com o relógio - ambos instrumentos da Modernidade - no GPS (Global Position System) denota a fusão das dimensões espaciais e temporais. O GPS fornece as coordenadas a cada instante, deixando para trás apenas um leve rastro digital do movimento. O movimento é um imperativo do espaço-tempo e, neste, as coordenadas são sempre contingentes, estão sob rasura. A localização torna-se posição (Foucault, 2001), com tudo o que pode haver de provisoriedade nessa expressão. As coordenadas espaço-temporais nos remetem a nomadismos, a liquidez, a instabilidade, a processos dinâmicos. Nesse sentido, é produtiva a possibilidade de se pensar em coordenadas espaço-temporais na modernidade líquida, pois são coordenadas contingentes, coordenadas que integram uma ordem caótica de fractais, desafiando a ordem moderna. Consideramos que isso pode ser tomado como uma lente teórico-metodológica para algumas análises acerca do mundo contemporâneo e, em especial, da Educação contemporânea. Importantes eventos contemporâneos podem ser lidos com o conceito de espaço-tempo, tais como as identidades móveis dos sujeitos - nas quais a única permanência parece ser a contínua reinvenção; a crescente importância das pedagogias culturais, entendidas como pedagogias do presente (Camozzato, 2012) capazes de se reconfigurar em um infinito processo de morphing; as demandas que chegam às escolas, exigindo mudanças que liberem os corpos de seus lugares fixos e os conhecimentos de suas localizações disciplinares; a exortação para uma aprendizagem ao longo da vida; as mudanças no mundo do trabalho, exigindo trabalhadores cada vez mais flexíveis; as mutações nas formas e significados do consumo, que incorporam o descarte como uma de suas condições de incremento (Bauman, 2008). Assim, o desafio de pensarmos juntos sobre essa educação que se desenvolve na contingência do espaço-tempo constitui-se em algo urgente e de substantiva importância para aqueles que se dedicam ao campo da educação, em seus múltiplos desdobramentos. Referências: BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e ambivalência. Trad. Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. CAMOZZATO, Viviane Castro. Da pedagogia às pedagogias - formas, ênfases, transformações. (Tese de Doutorado). Porto Alegre: UFRGS/FACED/PPGEDU, 2012. FOUCAULT, Michel. Outros espaços. In: FOUCAULT, Michel. Ditos e escritos 11I:estética.Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001. HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 2001. SARAIVA, Karla. Educação a distância: outros tempos, outros espaços. Ponta Grossa: UEPG,2010. VEIGA-NETO, Alfredo. A ordem das disciplinas. (Tese de Doutorado). Porto Alegre: UFRGS/FACED/PPGEDU, 1996. Comissão Organizadora: Edgar Roberto Kirchof (ULBRA) - coordenador. Adriana Thoma (UFRGS); Fabiana de Amorim Marcello (UFRGS); Iara Tatiana Bonin (ULBRA); Karla Saraiva (ULBRA); Lodenir Karnopp (UFRGS); Rosa Maria Hessel Silveira (UFRGS). Informaçõesna página http://www.sbece.com.br

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