quarta-feira, 25 de maio de 2011

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Polêmica sobre Livro Didático oportuniza discussão sobre as variedades linguísticas

Marília Curado Valsechi

Desde a semana passada, uma série de insultos tem sido pronunciada contra os profissionais da área da linguagem, professores e pesquisadores, que defendem a existência e o uso das distintas variedades linguísticas da língua portuguesa. Os ofensores, jornalistas, políticos e até procuradora da Justiça, colocam-se como “guardiões” do idioma e contribuem para o reforço do preconceito quanto a alguns usos sociais da língua e, consequentemente, dos falantes que se utilizam dessas variedades. A polêmica surgiu com a divulgação do livro didático “Por uma vida melhor”, voltado para a Educação de Jovens e Adultos, que apresenta enunciados que fogem à regra da gramática normativa, tais como “os menino pega o peixe”, “os livro emprestado”. O que causou maior espanto e indignação nos defensores da “língua única” foi que, logo abaixo tais enunciados, o livro trazia à pergunta “Mas eu posso falar ‘os livro’?” a seguinte resposta “Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Mas, em algumas situações você será vítima de preconceito linguístico”.

Se, por um lado, é inaceitável que pessoas que não têm nenhuma formação na área da linguagem queiram palpitar sobre o ensino, desmerecer as pesquisas linguísticas e ainda mencionar, falseamente, que a culpa da má qualidade do ensino é de “professores preguiçosos” que ensinam “errado” aos alunos, por apresentarem as diversidades linguísticas, por outro, a (ainda) polêmica colabora para colocar um holofote sobre o tema do preconceito linguístico, que até então não fazia parte da agenda de questões relevantes para serem debatidas na mídia.

Nesse sentido, apesar de não ser recente o trabalho em prol da inclusão das variedades linguísticas no ensino (a coleção de livros didáticos “….”, de Magda Soares, lançada na década de 80, por exemplo, já contempla a discussão sobre as variedades linguísticas), com o espaço na mídia, nós, pesquisadores da área da linguagem, teremos a oportunidade de ampliar o escopo do público-alvo nessa discussão, não restringindo o diálogo aos membros da esfera acadêmica, mas contemplando a população em geral. Poderemos dizer ao senso comum que levantar a bandeira do “certo” e do “errado” é contribuir para estigmatizar grupos sociais, considerá-los inferiores, “desempoderando-os” de sua condição de falantes que sabem a língua. Poderemos dizer que julgar um indivíduo pelo uso que ele faz da língua é tão preconceituoso quanto julgá-lo por sua cor, opção sexual, etnia, etc. Mas devemos deixar claro que essa disputa política – mais do que linguística – não visa à simples legitimação do discurso acadêmico, mas, mais do que isso, visa ao reconhecimento dos usos linguísticos de todos os grupos de falantes, que, com o seu modo de usar a língua, mantém uma relação identitária.

Fonte: Letramento do Professor: http://www.letramento.iel.unicamp.br

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