sábado, 12 de março de 2011

Laboratório de Estudos Hum(e)anos - Espaço para construção de novos saberes

http://www.estudoshumeanos.com

Iniciado em 2002, o Laboratório de Estudos Hum(e)anos é um espaço de reflexão, trabalho e inquirição filosófica, com vinculações multidisciplinares com os campos da teoria política, da ética, da moralidade e da estética.

O laboratório pretende estimular investigações no campo da filosofia política (clássica, moderna e contemporânea) que levem em conta as pretensões cognitivas e os desenhos de mundo presentes nos diferentes esforços de invenção e de representação da vida social. A premissa que informa esta orientação deriva de uma perspectiva fundada na tradição do ceticismo filosófico. Quer isto dizer que aquele campo é percebido como marcado por uma diversidade irredutível à operação de critérios de verdade capazes de estabelecer os termos efetivos da realidade. Uma realidade diante da qual as diferentes versões de mundo, presentes na tradição da filosofia política, devem ser cotejadas ou testadas.

A perspectiva adotada pelo laboratório demarca-se dos diversos tratamentos contextualistas – presentes em diferentes versões da história das idéias ou dos conceitos – e busca fixar uma tradição de trabalho filosófico sobre o campo da reflexão política, ética e moral. A orientação cética pode, ainda, ser detectada no reconhecimento do papel desempenhado pela crença no processo de invenção de mundos que constitui a matéria nobre da filosofia política. Como modalidade particular da criatividade humana, a filosofia política – assim como a ética e a filosofia moral – possui, ainda, forte interação – formal e substantiva – com questões presentes nos campos da arte e da estética. Vários dos problemas filosóficos relevantes para esses campos encontram equivalências – quando não identidades – em questões que incidem sobre a fabricação da filosofia política: forma, representação, referencialidade, mimetismo. O Laboratório interessa-se, com particular ênfase, por essa conexão, assim como na que se estabelece entre arte e moralidade.

Em vários sentidos, o Laboratório de Estudos Hum(e)anos evoca a figura de David Hume como referência:

1. Em sentido estrito, como espaço de reflexão e investigação sobre a tradição filosófica do ceticismo, e do papel central que ocupa em sua configuração moderna a filosofia de David Hume;

2. Como espaço de trabalho no campo da filosofia política e moral, percebido como domínio constituído por atos de crença;

3. Como lugar de uma reflexão experimental, voltada para questões de natureza pública, no sentido empregado por Hume na expressão ciência experimental da natureza humana: uma forma de conhecimento Atena aos efeitos das crenças sobre a configuração da experiência do mundo.

A inscrição filosófica presente no desenho do Laboratório, por suas conexões céticas, comporta, ainda, a consideração de temas que constituem experiência da vida comum. Para além de uma agenda cognitivista, o Laboratório ocupa-se, portanto, de questões de natureza prática, presentes em uma possível agenda de filosofia pública, voltada para a reflexão sobre fenômenos, dilemas e eventos traumáticos, e suas respectivas implicações normativas. Em outros termos, trata-se de fazer da filosofia política uma potência dotada da capacidade de intervenção cognitiva, crítica e normativa, diante de fenômenos da vida pública. O Laboratório apresenta-se como alternativa teórica e investigativa aos limites normativos presentes no projeto, ainda hegemônico, de uma ciência social positiva.

COORDENAÇÃO ACADÊMICA


Renato Lessa

Pesquisador I A do CNPq desde 2004 -, graduou-se em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense (1976) e obteve seus títulos de Mestre (1987) e Doutor (1992) em Ciência Política no Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ). Realizou estágios de Pós-Doutorado na American University (Washington, DC) (1994); na Universidade de Lisboa (2004) e na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (Paris)- na qual foi Diretor de Estudos no Centre de Théorie et Histoire des Arts -, em 2005. Desde 1978 é professor de Teoria Política da Universidade Federal Fluminense, ocupando, a partir de 1994, a posição de Professor Titular. Tornou-se Professor Adjunto do IUPERJ em 1992. A partir de 1999 ocupa, nesta instituição, a posição de professor titular de Teoria e Filosofia Política. Foi Pofessor Visitante da Universidade de São Paulo (2001) e da Universidad de la Republica (Uruguai), em 2003. Desde 2003 é Diretor Presidente do Instituto Ciência Hoje. Desde 2005 preside o Comitê Gestor do Programa de Cooperação em Ciências Sociais para os Países da CPLP, do Ministério da Ciência e Tecnologia. No mesmo ministério, integra, ainda, o Comitê Gestor do Programa Pró-África. Durante o ano de 2002 ocupou a Presidência da Fundação Carlos Chagas de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. De 2000 a 2002 foi Representante Adjunto da Área de Ciência Política na CAPES, tendo ocupado a representação principal de 2003 a 2005. Participou da refundação da Associação Brasileira de Ciência Política, em 1996 - tendo ocupado sua Secretaria Executiva por quatro anos, até 2000 permanecendo a ela associado até o ano de 2004). É associado, desde 1994, à ABA (Associação Brasileira de Antropologia) e, por meio do vínculo institucional do IUPERJ com a Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais (ANPOCS), a ela esteve ligado de diversas formas: coordenação de Grupos de Trabalho (Elites Políticas), criação de Grupo de Trabalho (Instituições Políticas), participação no Conselho Editorial da Revista Brasileira de Ciências Sociais) e participação no Comitê Acadêmico, no biênio 2000-2002. Por intermédio do Grupo de Trabalho História do Ceticismo , participa, ainda, das atividades da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF). Sócio da Sociedade Brasileira para o Pregresso da Ciência (SBPC), tendo sido membro de seu Conselho de 1999 a 2001. É, ainda, membro da Hume Society, do United States Holocaust Memorial Museum e dos Conselhos Acadêmicos do Programa de Estudos Judaicos, da UERJ, e do Centro de História e Cultura Judaica da Associação Religiosa Israelita do Rio de Janeiro (ARI-RJ). É consultor da Faperj, Fapesp e do CNPq. Na Fapesp, participou da implantação do Programa dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID), bem como da avaliação dos projetos submetidos e do acompanhamento de seus resultados. No momento integra o Conselho criado pela FAPESP para a gestão do Programa CEPID. É membro correspondente do Centro de Estudos Estratégicos da Escola Superior de Guerra e da Sociedade Portuguesa de Geografia (Secção de História e Pensamento Político). Participa de conselhos editoriais das seguintes publicações: Revista Internacional de Estudos Políticos; Revista SKÉPSIS; Revista El Debate Político (Argentina); Revista Configurações (Portugal) Revista Epistéme (Portugal); Revista Análise (Portugal). Recebeu, em 2006, do Ministério da Ciência e Tecnologia, a Medalha do Mérito Científico, vindo, com isso, a integrar a Ordem do Mérito Científico, na categoria comendador. Sua área de trabalho principal concentra-se nas relações entre Teoria Política e Filosofia, em torno de questões tais como ceticismo, relações entre estética e moralidade, estudos sobre o Holocausto, representação política, pensamento político brasileiro e divulgação científica

COORDENAÇÃO EXECUTIVA

Cesar Louis Kiraly

Crítico e Professor Adjunto de Teoria Política da Universidade Federal Fluminense (UFF, 2010). Possui graduação em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ, 2004) e em Direito pela FDCM da Universidade Candido Mendes (UCAM, 2004), mestrado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ, 2006) e em Ciência Política pelo IUPERJ (2006) e doutorado em Ciência Política pelo IUPERJ (2009). Atua na coordenação do Laboratório de Estudos Hum(e)anos, na iniciativa de pesquisas em filosofia pública e do Núcleo de Estudos em Teoria Política (NUTEP-IFCS) da UFRJ. Atualmente desenvolve pesquisa sobre as fundações céticas dos direitos humanos, sobre a metafísica política dos personagens na obra de Monteiro Lobato, sobre a forma suicidária do pensamento em alguns trabalhos de Joaquim Nabuco, sobre as relações conceituais entre Freud e Kelsen, sobre a política no trabalho artístico de Carlos Zilio e sobre formas políticas não-dramatúrgicas. Publicou em 2009 "O Guarda-Chuva de Regras: um ensaio sobre a filosofia de Herbert Hart" e em 2010 "Os Limites da Representação: um ensaio desde a filosofia de David Hume". Editor das revistas acadêmicas Estudos Hum(e)anos (ISSN 2177-1006) e Estudos Políticos (ISSN 2177-2851). Membro do Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos, no qual integra o grupo de Estética e Psicanálise.


PESQUISADORES
Cesar Louis Kiraly - IUPERJ
Alexandre Bacelar Marques
André Luiz de Jesus Rodrigues
Bernardo Bianchi Barata Ribeiro
Chiara Araújo
Cleber Ranieri Ribas de Almeida
Cynthia Cristiane Guereiro Baldi
Gustavo Cezar Ribeiro
Luís Falcão
Mayra Goulart da Silva
Paula Pimenta Velloso
Paulo Henrique Granafei
Pedro Luiz Lima
Rafael Assumpção de Abreu
Tereza Mendonça

Algumas de nossas contribuições neste espaço em 2010

Sobre a Metafísicas do Olho: Variações I por Cesar Kiraly
jun.24, 2010 em Bibliografia, Ensaios
Neste artigo procederemos a três movimentos, de algo que pode ser literariamente descrito como Variações: (1) narrativa sobre a arqueologia na obra de Michel Foucault. Porque aquilo que desejamos dizer adiante demanda certa ambientação que apenas uma forte filosofia dos discursos, dos arquivos e dos fragmentos é capaz de produzir, (2) corporificação do discurso com a metáfora do olho (a possível opacidade de um olho sem fundo, ou sem intimidade) e (3) a estruturação da idéia de opacidade da dor do outro. Desejamos mostrar que existe uma explícita complementaridade entre a identificação da fragmentação dos discursos, a identificação do esvaziamento dos olhos e a identificação da opacidade diante da dor do outro. Aproximaremos essas três identificações filosóficas com um imperativo moral cético: é na identificação da fragmentação dos discursos que percebemos e nos desviamos da opacidade do fundo do olho e opacidade da dor do outro. Porque se a opacidade da dor do outro é algo que se impõe pela necessidade, ela bem se diferencia da prática ativa de tornar a dor do outro uma dor opaca. Pela identificação da fragmentação dos discursos não só reconhecemos a opacidade, como instauramos, outrossim, outros regimes nos quais a opacidade possa se tornar sinônimo de intimidade expressiva, e não de abandono moral. No segundo movimento apresentaremos variações sobre um conto de Hoffmann e no terceiro movimento: variações sobre Regarding the Pain of Others de Susan Sontag. Um dos primeiros ensaios sistemáticos sobre uma teoria social da imagem fotográfica. Os fortes vínculos entre a arqueologia filosófica de Foucault e nosso interesse neste conto fantástico de Hoffman e nas análises de Sontag sobre a fotografia aparecerão na narrativa, e decorrem da estrutura das Variações.

Comentários da Equipe Ch Penha Pojetos

Antonio Ricardo Penha
junho 29th, 2010 at 10:08 pm

Vivemos a era dos artigos feito a rapidez do autor, onde os questionamentos de relevância se perdem na poeira que se acumula no teclado do computador, ou nas traças que passeiam nos jornais a muito largado. Kiraly, jovem Doutor, fustiga-nos a pensar Foucault no ítem: “(1) narrativa sobre a arqueologia na obra de Michel Foucault. Porque aquilo que desejamos dizer adiante demanda certa ambientação que apenas uma forte filosofia dos discursos, dos arquivos e dos fragmentos é capaz de produzir”. Entretanto, quem passeia nos trabalhos de Foucault e na dimensão da sua revolta com a mesmice, perguntará a si mesmo, quanto tempo temos dedicado a construção de saberes, que possibilitaria entender o articulista. Minha aluna de Filosofia Contemporânea engasgada com a construção do texto, pergunta-me se entendi Kiraly, numa proposta de fomentar um debate com outro aluno que diz que compreendeu apenas no limite da variação (2), onde o próprio mundo é visto por todos numa opacidade cultural. Estamos falando de quê, afinal de contas? Insiste ela. Falamos de Ignorância, falta de estudo, falta de leitura, falta de cor e principalmente da falta de respostas.Responde-lhe outro aluno, pois quando Kiraly mistura arqueologia que busca vestígios em objetos ou fatos enterrados com fragmentações da fotografia que ao tolo é um espectro, um fantasma, está ele simplesmente escrevendo nas paredes das cavernas para que entendamos sua escrita quando atingirmos olhar dos arqueólogos daqui muitos anos.

Lucas S. E. Beagee
julho 3rd, 2010 at 2:13 pm

Perfeito!! Uma chamada ao nosso raciocíonio tão acostumado ao poder da escolha entre a escrita banal e a relevante. O autor do artigo foi pleno, e o articulista que o comentou absorveu a essência desta escrita espalhando o seu significado para interpretação dos seus alunos sa academia. Parabéns aos dois.

Ana Paula F. de Abreu Lima
julho 5th, 2010 at 9:44 pm

Fico entusiasmada com os textos que o professor Antonio Penha descola para as nossas discussões. Este Blog foi um achado, e professores como Renato Lessa e Cesar Kiraly tem nos submetido a estudos mais profundos. A linguagem que usam ainda não entendemos sem a orientação do nosso querido professor Antonio. Porém, tem sido muito gratificante participar desta academia.
Parabéns aos idealizadores do Laboratório de Estudos Hum(e)anos.

Christiane Maria Costa Carneiro Penha
julho 5th, 2010 at 9:51 pm

Levei o Artigo para a leitura dos meus alunos em duas instituições de ensino superior: Centro Universitário Abeu e Faculdade Gama e Souza.Lá os jovens acadêmicos de Pedagogia, Letras e Matemática solicitaram auxílio para debaterem a intenção do articulista. Isto por si, já valida o esforço de construir com eles respostas ao texto de tão boa escrita. Que o acesso permaneça sempre disponível.

Rua da Matriz nº 47, Botafogo, Rio de Janeiro - RJ - Tels.: (21) 2535-5408 / (21) 2537-8020 contato@estudoshumeanos.com

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