quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Olho vivo

SAÚDE PÚBLICA

O crack vai destruir a escola?
Por Deonísio da Silva


"O crack chegou à escola" – este foi o título do artigo do jurista Paulo Brossard, ex-ministro da Justiça e ministro aposentado do STF, publicado na edição de segunda-feira (2/11) de Zero Hora.

Se ele tivesse utilizado "craque", a forma aportuguesa da palavra, a ambiguidade daria uma boa notícia: a escola estaria cuidando melhor do esporte que no Brasil mais desperta paixões, é instrumento de ascensão social, ainda que para poucos, e hoje compõe um dos itens de exportação. Mas, não. Ele se referia à droga cujo consumo já ultrapassou o da cocaína.

Nossa língua ainda não encontrou palavra adequada para identificar o novo tipo de tóxico e, como sempre, recorreu ao inglês. O étimo está presente em crack-horse, que no turfe designa o cavalo vencedor e no futebol indica o jogador com desempenho sempre acima da média. De resto, passou a designar o profissional altamente qualificado em outras áreas.

Enfim a mídia acordou para o crack, que em inglês quer dizer barulho de alguma coisa quebrando ou simplesmente quebra, como em o crack de bolsas e bancos. É exemplo disso a série de matérias que a imprensa vem dedicando ao assunto. O Globo, com chamadas na primeira página, deu para as reportagens o título geral de "Jovens em Risco".

Uma ilha

O avanço do crack é impressionante. Alguns casos são emblemáticos. O prestigioso Liceu do Coração de Jesus foi fundado por São João Bosco em 1885, com o auxílio da princesa Isabel, no centro de São Paulo, para atender a filhos de imigrantes italianos e de negros libertos. Agora está sendo vencido pela cracolândia, mas chegou a ter três mil alunos. Hoje tem menos de trezentos. Os usuários do crack, conhecidos por "noias", são os principais responsáveis pela debandada dos antigos alunos, transferidos para outras instituições, e pela decadência das novas matrículas, como noticiou a Folha de S.Paulo.

"O que me parece espantoso é que essa catástrofe não sucedeu nos confins do Brasil, que tem os mais variados níveis econômicos e sociais, mas em zona central da capital de São Paulo", destaca Paulo Brossard, acrescentando: "Agora a droga veio dar dimensão industrial ao vício e viciados, zomba da sociedade, dos jovens, estudantes, professores, autoridades de alta hierarquia, da liberdade e da vida das pessoas. É uma ilha dentro do Estado. Tem moral, leis, polícia e até justiça próprias. Nisso pode ser resumido o flagelo".

Idade Média

O Globo destacou uma das conclusões do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que é a mudança no perfil dos clientes do crack, antes pobres em sua maioria: "O caso do músico Bruno Kligierman de Melo, de 26 anos, viciado em crack que, há 11 dias, matou a estudante Bárbara Calazans, de 18, no Flamengo, no entanto, é um exemplo de que a droga já se alastrou para a classe média".

A mídia começa a discutir a legalização do comércio de tóxicos, pois, clandestino, ele atesta seu avanço devastador, enquanto fracassam as estratégias de combate às drogas, as novas pestes desta nova Idade Média à qual adentramos já há algumas décadas.
Ver em: www.observatoriodaimprensa.com.br




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