domingo, 10 de janeiro de 2010

Professora Christiane na revista Nós da Escola

A força da imagem Ver também: www.multirio.rj.gov.br/portal/_download/revista53.pdf , páginas 42-43
por Ivan Kasahara - publicado em 25/02/2008
Para alguns críticos de cinema saudosos ou mais radicais, a manifestação mais bela e genuína da sétima arte é o cinema mudo, no qual o diretor teria que ser capaz de transmitir sua mensagem apenas com a força das imagens. Grandes cineastas, como o inglês Charles Chaplin e o alemão Friedrich Murnau , tornaram-se célebres dessa forma. Fazendo referência ao cinema mudo e apoiada principalmente em estímulos visuais, a professora Christiane Penha está transformando o dia-a-dia da Escola Municipal Mato Grosso, em Irajá (5ª CRE). Responsável por uma classe de educação especial formada por alunos surdos, Christiane vem difundindo a Língua de Sinais Brasileira (Libras) não apenas para sua turma, mas para toda a comunidade escolar, aprimorando uma ação que começou na escola há alguns anos.
Em 2003, a E.M. Mato Grosso passou a oferecer aos estudantes com deficiência auditiva salas de conversação nos contraturnos de suas aulas para que aprimorassem sua oralidade. Era o início do Projeto Bilíngüe, que, no entanto, agia apenas em mão única, ou seja, somente os surdos aprendiam as duas línguas, português e Libras. No início de 2007, quando Christiane chegou à escola e percebeu as dificuldades existentes na comunicação entre alunos não-ouvintes e professores ouvintes, decidiu ensinar a língua de sinais a pais, professores e alunos sem deficiência auditiva, começando a transformar toda a escola em, de fato, bilíngüe.
Às segundas-feiras, durante os trinta minutos finais do turno da manhã, Christiane recebe pais e responsáveis na sala de aula para, junto com seus alunos, ensinar Libras. Durante os horários de educação física de sua turma, ela vai a outras classes atender outros professores e alunos ouvintes interessados. Atualmente, seis responsáveis, três professores e cerca de 120 alunos assistem a suas aulas. Além disso, duas estudantes de 7 anos e um de 11 são monitores. Eles têm aulas diárias de 20 minutos e repassam o que aprendem para seus colegas de turma.
– Após essas aulas começarem, o isolamento dos estudantes surdos diminuiu bastante. Ouvintes e não-ouvintes se relacionavam desde antes, mas agora há uma comunicação efetiva entre eles. E é interessante notar como as crianças aprendem muito mais rápido do que os adultos – diz Christiane, que não é a única docente de Educação Especial da escola, mas a primeira a ter a iniciativa de expandir o ensino da língua de sinais.
A professora confeccionou o alfabeto em Libras com cartazes nos quais cada um contém a grafia da letra, seu sinal correspondente e uma palavra iniciada por ela. Também construiu um vocabulário de sinônimos, já que nem toda palavra na língua portuguesa tem um correspondente exato em Libras. Outro recurso visual utilizado por Christiane, apenas com seus alunos surdos, é um espelho, para que, enquanto lêem palavras, eles vejam o movimento e a articulação de suas bocas, melhorando a oralidade.
Uma das atividades que mais repercutiu na escola foi a gincana Soletrando em Libras, baseada em um programa de TV. Nela, os alunos ouvintes deveriam soletrar palavras em Libras e fazer os sinais a elas correspondentes. Os jurados eram os próprios alunos surdos. O objetivo, segundo Christiane, foi fixar o aprendizado através da brincadeira.
A diretora da E.M. Mato Grosso, Vera Lucia Salerno, que acolheu e apoiou a iniciativa de Christiane e também participa das aulas de Libras, lembra a consonância entre essa proposta e o projeto político-pedagógico da unidade: "partilhar talentos".
– Essas aulas permitem que Christiane e os estudantes surdos partilhem com os demais um de seus talentos, que no caso é conhecer a língua de sinais – afirma.
Christiane concorda e reforça a importância desse projeto para seus alunos.
– Eles gostam muito de mostrar a sua língua para os outros e o fato de colaborarem comigo nas aulas para os ouvintes, de ensinarem, melhora a auto-estima deles – ressalta.
Mesmo sem saber se continuará na escola em 2008, Christiane acredita que o trabalho iniciado por ela continuará a ser feito, o que é garantido pela diretora Vera Lucia, graças a parcerias consolidadas com outros docentes e com a própria diretora.
Ivan Kasahara é repórter/redator do Programa Século XX1.

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