terça-feira, 20 de setembro de 2011

Uma Visão Antropológica sobre a Reengenharia na Formação Docente

Patricia Maria Moreira Costa
Contatos: ppadulam@gmail.com

Estamos vivenciando uma grande mudança na prática docente embora ainda lenta. As aulas tradicionais onde só o professor tem o direito a palavra e onde aos alunos cabe apenas o papel de ouvintes não pode existir mais. Uma mudança drástica deve ser incentivada e o objeto dessa mudança deve começar pelo professor. Ele deve ser o seu próprio arquiteto, o seu próprio agente transformador, e isso aconteceria através da pesquisa, da ousadia de ver e criar o novo.

Nós, antropólogos urbanos somos treinados desde nossa “estréia” no mestrado ou na graduação, a abrir os nossos horizontes, ou seja, a aprender a relativizar a ver o mundo sob a ótica do outro. Este “outro” pode ser até o seu vizinho, o “outro” é aquele que te causa espanto, curiosidade e até mesmo repulsa. Costumo dizer que ser antropólogo exige coragem, pois você irá mexer com as suas próprias estruturas de pensamento para assim poder ser um professor que instiga os alunos, que os inquieta, que os deixa pensando em sua função na sociedade, em seu modo de agir. Acredito que a antropologia deveria ser uma disciplina a ser ensinada não só na Universidade, mas também no ensino básico em diante pois assim estaríamos formando cidadãos pensantes e questionadores. Que diferença faria em minha vida se eu tivesse tido contato com a antropologia logo no ensino básico! Mas claro, uma antropologia voltada para fora, para o mundo, uma antropologia viva e prática.

Chego agora ao âmago da questão. A necessidade da pesquisa, da prática, do sentir na pele o que se está de fato pesquisando. A antropologia pode ser resumida em uma prática ampla: o trabalho de campo. E o que vem a ser este trabalho de campo? É justamente ir de encontro ao desconhecido para que você possa se conhecer e assim conseguir interagir com seus alunos e não apenas ser um mero repetidor de informações. É fazer com que os seus alunos reajam a você, ao que você está transmitindo incentivando-os a fazer o mesmo. Assim, teríamos futuros docentes com consciência crítica e aptos a pesquisa seja na disciplina que for. Nós mesmos não seríamos meros repetidores. Pedro Demo em seu livro “Educar pela pesquisa” (editora Autores Associados) diz: “não basta a qualidade formal, marcada pela capacidade de inovar pelo conhecimento. É essencial não perder de vista que conhecimento é apenas meio, e que, para tornar-se educativo carece ainda de orientar-se pela ética dos fins e valores. Tendo-se tornado cada vez mais evidente a proximidade entre conhecer e intervir.”(pag.7). O docente que adota esta visão e prática vai criar cidadãos críticos, vai estimular a criatividade dos mesmos.

Os alunos serão capazes de transformar a si mesmos e ao mundo. Esta é a idéia da antropologia como poderoso agente de reengenharia na formação docente. Formar pessoas questionadoras e transformadoras. A pesquisa deixará de ser algo meramente burocrático para ser algo pessoal, ideológico. A pesquisa deixará de ser um fim em si mesma pois se tornará uma construção e busca constante de conhecimento voltado para o mundo e não apenas para o meio acadêmico.

E como isto pode ocorrer? Fornecendo oportunidade para que os alunos vivenciem outras realidades que interajam com elas, que deixem seu mundo seguro para aventurar-se no desconhecido mundo da pesquisa. Que sintam em sua pele, dentro do seu ser que reproduzir conhecimento não os levará a nada, ou melhor, os levará ao comodismo e a reprodução de valores ultrapassados. O que quero passar aqui é que a pesquisa tem que ser um agente de transformação, partindo do microcosmo e chegando ao macrocosmo para que a educação seja uma ponte para a liberdade de pensamento, criação e reconstrução pois o mundo é dinâmico, as sociedade são dinâmicas. Nada está morto embora muitas vezes possa parecer. Tudo está vivo a espera da sua contribuição criativa. Vamos então sair da inércia, do comodidade da sala de aula rigidamente estruturada. Vamos para o mundo? Vamos criar? Vamos para o “campo”, vamos buscar compreender o outro para assim podermos ser realmente agentes de transformação.

Bibliografia:

Demo, Pedro. ‘Educar pela Pesquisa”, 8ªedição, Ed. Autores Associados, 2007

A autora do artigo possui Mestrado pela UERJ(1998). Foi professor visitante do Instituto A Vez do Mestre.

Endereço para acessar Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/8902675661302296

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